quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sábado a noite.

(Textos do meu antigo blog, resolvi repostar.)

A casa estava fria. Era sábado ao anoitecer mas eu estava trancada em casa e não me arrumando pra sair. Entrei no meu quarto e peguei o meu ursinho e o abracei. Era ele que iria passar a noite comigo.

Fui até lá fora e dei uma olhada na rua, não havia ninguém, apenas a lua clariando e rapidamente voltei para dentro de casa. A porta se fechou como uma despedida para a rua, mas a porta sempre se fechava assim. Ela se fechou com um som abafado e rouco. Mas era sempre assim que ela se fechava. Um som que parecia o adeus de um condenado. Mas a porta simplesmente se fechara e ela sempre se fechara assim. Todos os dias se fechava assim.
Abrir o armário, pegar um miojo, botar no fogo e esperar. A miojo estava bom. Estava realmente bom, embora tenha ficado quase a metade no prato. Havia derramado alguns pingos de caldo no ursinho e pensei em pedir-me desculpas por isso. Sorri com esse pensamento. Acho que sorri. Devo ter sorrido. Era só um ursinho. Busquei no silêncio da cozinha algum inseto mas eles já haviam todos adormecido para a manhã de domingo. Então eu falei em voz alta. Precisava ouvir alguma coisa e falei em voz alta. Foi só uma frase banal. Se houvesse alguém perto diria que eu estava ficando doida. Eu sorriria. Mas não havia ninguém. Eu podia dizer o que quisesse. Não havia ninguém para me ouvir. Eu podia rolar no chão, ficar nua, arrancar os cabelos, gemer, chorar, soluçar, perder a fala, não havia ninguém para me ver. Ninguém podia me ouvir. Não havia ninguém. Eu podia até morrer.

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